A start-up OriginalMy prepara o primeiro financiamento coletivo a ser feito no Brasil a partir de criptomoedas para o final deste mês.
A modalidade, conhecida como ICO (“Initial Coin Offering”, ou oferta inicial de moedas) ganhou relevância nos Estados Unidos neste ano, quando companhias levantaram milhões de dólares (em bitcoins ou ethereum) em minutos vendendo novas moedas digitais criadas por elas.
No caso da OriginalMy, quem injetar recursos no projeto receberá títulos (conhecidos como “tokens”( que funcionam como licenças para uso do serviço da empresa.
Ela desenvolve sistema de registros e autenticação de documentos digitais a partir do blockchain (rede de registros de informações distribuída em vários computadores e serve como base do bitcoin).
Eles devem ser vendidos em lotes custando US$ 500 e US$ 1.000. O preço unitário do token será de de US$ 0,25, um quinto do que a empresa trabalha rotineiramente.
A expectativa da companhia é levantar entre US$ 1 milhão e US$ 5 milhões. Os recursos devem vir, principalmente, de empresas interessadas em usar o serviço, diz Edilson Osorio Junior, fundador da OriginalMy.
Ele diz que, antes de optar pela captação com criptomoedas, a empresa buscou investimentos de fundos especializados em apostar em start-ups.
Muitos acharam o projeto da companhia interessante, mas ainda fora do radar do que poderiam investir, por se tratar de uma tecnologia muito nova, diz.
A companhia tem escritório no Google Campus, espaço em que a empresa americana abriga e apoia start-ups selecionadas em São Paulo. Ela foi criada em 2015 e conta com sete funcionários.
Atende principalmente o mercado de corretoras de criptomoedas e pessoas físicas que queiram registrar documentos. Seus planos são expandir para setores mais tradicionais, como o financeiro.
INVESTIMENTO
Para especialistas, os ICOs prometem uma maneira menos burocrática de levantar recursos para empresas inovadores e uma alternativa de investimento agressiva (com alto risco e potencial de retorno) para quem aplica.
Porém eles consideram ser difícil dissociá-los de investimentos, mesmo quando a função principal do título emitido é dar acesso a um serviço.
“Em uma venda antecipada, na prática, é equivalente a uma compra de ativos no mercado futuro, em que se conta com a valorização”, diz Marco Konopacki, coordenador de projetos do ITS Rio (Instituto Tecnologia e Sociedade).
Segundo ele, a regulação desse tipo de oferta, hoje feita sob poucos controles, deverá ser cada vez mais discutida conforme elas ganhem relevância.
Humberto Delgado, professor da Fiap (Faculdade de Informática e Administração Paulista), lembra que investimentos ligados a criptomoedas, apesar de estarem em alta, são voláteis. Também há risco de projetos de start-ups não darem certo.
Em nota, a CVM (Comissão de Valores Mobiliários) informou estar atenta às recentes inovações tecnológicas nos mercados financeiros global e brasileiro, buscando compreender eventuais benefícios e riscos associados a elas.
Segundo a autarquia, quando puderem ser compreendidas como venda de ativos, a oferta de ações de empresas ou tokens devem seguir suas regulações quando se tratarem de valores mobiliários.
Helena Margarido, responsável jurídica da OriginalMy, diz considerar que não é o caso da captação da empresa, pois quem participa dela não compra necessariamente um investimento. “Eles reconhecem que existem ICOs que não dizem respeito a valores mobiliários. Aqui nós entramos”.
Original post: https://www1.folha.uol.com.br/tec/2017/10/1929948-start-up-originalmy-fara-oferta-de-moedas-digitais.shtml