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Depoimento de um jovem brasileiro

Já que a campanha desembocou no tom emotivo que chegou, desprivilegiando as propostas, também vou fazer meu depoimento emocionado declarando meu voto no segundo turno das eleições presidenciais de 2010.

Nasci na cidade de Araucária, Paraná, cidade da região metropolitana de Curitiba. Minha origem é simples. Meu avô, Vitório Konopacki, saiu da lavoura no distrito de Guajuvira, para montar sua vida como ferroviário. Na década de 1950 entrou para Rede de Viação Paraná Santa Catarina, que depois se transformaria em Rede Ferroviária Federal (RFFSA). Pouco mais de 20 anos mais tarde, meu pai, José Luís Konopacki, seguiria a mesma trajetória, ingressando para a, então gloriosa, RFFSA. Naquela época, era um orgulho trabalhar para “a rede” que era uma das maiores empresas brasileiras. Não é a toa que meu pai conheceu minha mãe num pátio de estação. Meu avô por parte de mãe, Alexandre Gilberto Visbiski, aposentou-se como supervisor de turma pela RFFSA.

Rede Ferroviária Federal S/A

Meu irmão, Fábio Alexandre Konopacki, inspirado no orgulho que meu pai tinha de ser ferroviário, recentemente, em 2003, ingressou para a, já privatizada, América Latina Logística. As más condições de trabalho e a precariedade com a qual a multinacional trata seus funcionários, fez meu irmão desistir do sonho, deixando a empresa em 2008. O sonho de se fazer uma carreira digna como trabalhador valorizado dentro da empresa já não é mais a mesma. A empresa privatizada visa o lucro exclusivamente e não tem nenhum compromisso com o desenvolvimento do país. Meu irmão, assim como meu pai, não conseguiram se aposentar trabalhando como ferroviários. Meu irmão por opção, meu pai por demissão. Sim, meu pai atravessou todo o processo de privatização da RFFSA durante o ano de 1998 do governo do então presidente, Fernando Henrique Cardoso. Toda a malha ferroviária foi entregue a grupos internacionais que, ao invés de expandir, reduziram a malha a somente aos ramais que lhes eram interessantes. Meu pai, por acreditar que poderia se aposentar como ferroviário, não cedeu as pressões para demissão voluntária, iniciadas ainda enquanto estatal e estabelecidos através de decreto pelo presidente FHC. Ele era ferroviário e não tinha outra profissão. Queria ter o orgulho de se aposentar como tal.

Foi então, que em 2002, após trabalhar uma noite inteira de plantão, que meu pai chegou em casa e deu a derradeira notícia para minha mãe: “Fui demitido, junto com tantos outros colegas”. Na mesma hora ele começou a chorar, chorar tanto, que fiquei desesperado. Acho que deve ser um trauma para qualquer jovem ver seu próprio pai chorar. Eu nunca tinha visto meu pai chorar. Sabe o que é uma pessoa criar sua identidade pelo que faz e de uma hora pra outra, num processo nefasto, ver sua identidade ser roubada. Meu pai não foi demitido por incompetência, mas por um ajuste estrutural da empresa privatizada. Meu pai tinha herdado o salário de funcionário público federal. A ALL contratou alguém para substituí-lo pagando 5 vezes menos. O discurso naquela época era: “Deixe que o mercado ajusta as coisas”. Esqueceram de dizer que não somos coisas, somos pessoas, seres humanos! Em 2002 estávamos no último ano de governo FHC, mas as consequências de 8 anos do governo do PSDB geraram consequências sentidas até hoje. Meu pai tinha vivido a pior delas naquele ano.

Eu tinha sentido efeito dos “ajustes” feitos pelo governo PSDB alguns anos antes. Por sempre ter sido incentivado para tal, queria estudar muito e virar um engenheiro mecânico. Já vinha sentindo o processo de sucateamento das estatais e, principalmente, da RFFSA. Não queria virar ferroviário porque aquela profissão já não tinha o mesmo “glamour” de antes. Meu pai me ajudou e pagou um curso para que eu passasse no CEFET, que era a melhor escola para eu fazer o meu segundo grau. O ano era 1997. Meu sonho era passar no curso técnico em mecânica, usar o guarda-pó verde musgo que meus tios já tinham usado (tive um tio que fez o curso técnico em mecânica e outro que fez edificações). Com a ajuda de meu pai e minha mãe, que pagaram meu cursinho, consegui passar no tão sonhado CEFET e pude dar um pouco de orgulho a eles. Porém, neste mesmo ano, o governo FHC com então Ministro da Educação, Paulo Renato (Secretário de Educação do governo Serra em São Paulo) reformou a LDB (Lei de Diretrizes e Bases) da educação brasileira. Com ela, foi extinto o ensino técnico de segundo grau em todo país e o CEFET-PR foi um dos primeiros a aderirem a nova LDB. Fiquei arrasado, o curso técnico que gostaria de ter feito, para que saísse do segundo grau já com uma profissão, foi extinto quase que no ato da minha inscrição.

Em 2003 Lula foi eleito com uma quantidade imensa de votos e parecia que as coisas iriam mudar. A mudança não foi sentida da noite pro dia e as vezes eu acho que as pessoas ainda não perceberam as mudanças. Mas basta eu citar coisas de antes desse governo, que se transformaram em quase tragédias familiares, e citar o que acontece agora para perceber que sim, há uma diferença para melhor. Em 2005 consegui terminar minha faculdade de Administração pela UFPR. Consegui num clima de euforia, pois a Universidade pública estava em continua e franca expansão quando saí, bem diferente de quando entrei, em 2001, que o arrocho do orçamento da educação pública levava ao cúmulo de alunos terem que comprar o material de laboratório. Em 2006, abri uma empresa junto com meu grande amigo de faculdade, e parceiro de vida, João Paulo Mehl. Tivemos incentivo para pequenas empresas que estão começando e, felizmente, rompemos a média de vida das empresas recém fundadas, que vivem em torno de um ano. Muito por mérito nosso, mas muito também pela política governamental que passou a incentivar a iniciativa de pequenos produtores, ao invés de só olhar para os grandes. Nós inclusive conseguimos investir no nosso negócio, comprando insumos utilizando o cartão BNDES.

Em 2010, ingressei no programa de mestrado em Ciência Política da UFPR (optei pela ciência política por querer entender isso que mudou o Brasil e também ser um agente de mudança depois de tudo que vivi nessa minha jovem e recente vida). Graças ao investimento na pós-graduação e na pesquisa que esse governo está fazendo, eu tive a opção de parar de trabalhar e me dedicar exclusivamente para a pesquisa no mestrado. Todos, eu disse todos, os alunos do programa tinham a opção de fazer o curso com bolsa. Imagine, pra mim, que sempre que tive que trabalhar para poder me manter e pagar meus estudos, ter a opção de poder me dedicar só para os estudos. Há 10 anos parecia inacreditável que isso poderia acontecer e, agora, eu sou um exemplo da transformação que este país está vivendo.

Eu tenho uma única frase para resumir isso: O Brasil e o povo brasileiro deixou de ser tratado por uma coleção de números e dados para sermos tratados como pessoas, gente. Não somos mais “coisa”, somos brasileiros e brasileiras nos quais o Brasil aposta para dar certo. Antes do governo Lula, as pessoas estavam sem esperança de mudar de vida, sem perspectiva de um caminho melhor, de reconhecer a possibilidade um país diferente. Hoje elas tem a possibilidade de construir uma vida, a vida que elas quiserem e sonharem.

Eu não quero a volta do modelo em que as pessoas são tratadas como números. Eu quero continuar com o Brasil que está mudando. Com o Brasil feito pelos brasileiros e brasileiras e não pelas multinacionais e agências financeiras internacionais. É por isso que voto e peço voto para Dilma Rousseff para presidenta. No dia 31 de Outubro, vote 13. Espalhe essa mensagem para seus amigos e familiares. Não deixe que a boataria contamine um dos maiores projetos de transformação que este país já teve.

Um forte abraço,

Marco Antônio Konopacki.

Um pessoa real, com sentimentos reais e que escreveu essa carta com o coração. Ao contrário das boatarias que estão circulando por aí, essa carta é assinada. Se tem dúvida, conheça meu blog: http://amarelo.soylocoporti.org.br

13 thoughts on “Depoimento de um jovem brasileiro”

  1. Meu irmão, muito bom, sincero, real!
    To contigo, vou de Dilma!

    1. Paulo Roberto Natal says:

      Eu particularmente não voto em nenhum dos dois, trabalhei na RFFSA – SR-5 – Paraná – Santa Catarina, no período – 1981 a 1996, na função de Ag. de Seg. Ferroviária. Fernando Henrique Cardoso ( PSDB ) matou a RFFSA E LULA ( P T ), ASSINOU O ATESTADO DE ÓBITO. – Início > News Log > Notícias > Política > Notícia

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      10/04/2005

      Presidente Lula extingue a RFFSA

      Política

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      O presidente Luiz Inácio Lula da Silva assinou medida provisória liquidando a Rede Ferroviária Federal S.A. (RFFSA) e transferindo para o Tesouro Nacional todas as dívidas da empresa, estimadas em R$ 6,9 bilhões. A MP foi publicada hoje (quinta-feira, dia 07) no Diário Oficial da União, junto com o Decreto 5.412 que regulamenta a MP e reestrutura todo o setor ferroviário. Atualmente, a RFFSA tem 500 funcionários e atua na fiscalização dos contratos e do patrimônio ferroviário. Seus ativos operacionais (infra-estrutura, locomotivas, vagões) estão arrendados às concessionárias operadoras das ferrovias.

      O decreto estabelece competências do Ministério dos Transportes, da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), do Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) e do Departamento Nacional de Infra-estrutura de Transportes (DNIT). Este último será reestruturado, passando a contar com mais duas diretorias – a Executiva e a de Infra-Estrutura Ferroviária – e assumirá o controle patrimonial e contábil das malhas ferroviárias arrendadas.

      Em nota divulgada à imprensa, o Ministério dos Transportes informa que, além de contemplar o encerramento do processo de liquidação da RFFSA, a MP também representa a liberação de seus ativos. “Com isso, o governo põe fim a um processo que se estendeu por cinco anos, criando o ambiente de segurança jurídica necessário para a retomada segura dos investimentos federais e os da iniciativa privada no setor ferroviário”, afirma o secretário-executivo do Ministério dos Transportes, Paulo Sérgio Oliveira Passos.

      Segundo ele, “o término do processo de liquidação da RFFSA é um passo natural, que o governo estava disposto a dar, desde que incluiu a empresa no Programa Nacional de Desestatização”. Ainda de acordo com a nota divulgada pelo ministério, para evitar a demissão automática e a perda de mão-de-obra especializada, os funcionários da RFFSA serão absorvidos pela Empresa Brasileira de Planejamento de Transportes (Geipot), vinculada ao Ministério dos Transportes. Ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) caberá a administração dos bens culturais e artísticos da RFFSA, de modo a garantir a preservação da memória ferroviária brasileira.

      Entre outras atribuições, compete ao Ministério dos Transportes a coordenação e a supervisão dos procedimentos administrativos relativos à Inventariança da extinta RFFSA. De acordo com a MP, constituem atribuições do Inventariante: representar a União, na qualidade de sucessora da extinta RFFSA, nos atos administrativos necessários à Inventariança, podendo também celebrar, prorrogar e rescindir contratos administrativos, convênios e outros instrumentos, quando houver interesse da administração; encaminhar ao Ministro de Estado dos Transportes relatórios trimestrais sobre o andamento das atividades, atualizando em cada relatório o cronograma de atividades básicas em andamento, bem como relatório final quando da conclusão do processo de inventariança.

      O prazo para a conclusão dos trabalhos é de um ano, a contar da data de publicação da MP, podendo ser prorrogado, a critério do ministro dos Transportes, mediante proposta do Inventariante. Ainda de acordo com os termos da MP, caberá ao Ministério dos Transportes dar prosseguimento ao pagamento das obrigações da extinta RFFSA junto à Fundação Rede Ferroviária de Seguridade Social – REFER, referentes às contribuições dos empregados já desligados em virtude de adesão a planos de incentivo ao desligamento voluntário, nos quais a extinta RFFSA obrigou-se a mantê-los na condição de participantes ativos, pelo prazo pactuado.

      O DNIT será o responsável pelo acervo documental relativo aos bens da extinta RFFSA, assim como pela propriedade dos bens móveis e imóveis operacionais da extinta RFFSA; os bens móveis não-operacionais utilizados pela Administração Geral e Escritórios Regionais, ressalvados aqueles necessários às atividades da Inventariança; e os demais bens móveis não-operacionais, incluindo trilhos, material rodante, peças, partes e componentes, almoxarifados e sucatas, que não tenham sido destinados a outros fins.

      À ANTT caberá a fiscalização dos contratos de arrendamento e o levantamento das demais informações necessárias às atividades de gestão dos referidos contratos, mediante termo específico a ser firmado com a Inventariança, dando ciência ao DNIT, por força do disposto no parágrafo único do art. 3 o da Medida Provisória n o 246, de 2005. Ainda de acordo com os termos da MP publicada no DOU, será responsabilidade da Secretaria do Tesouro Nacional receber e dar quitação das parcelas oriundas dos contratos de arrendamento firmados pela extinta RFFSA, e informar à ANTT eventuais inadimplências.

      Por Revista Ferroviária

  2. Lúcio says:

    Parabéns pelo texto.

    Você mostrou como o projeto neoliberal afeta o dia a dia das pessoas! Lembrei do meu avô, que tinha um orglho danado de ser Chefe de Estação em Valença- RJ. Hoje tenhoum orgulho danado de ser Servidor Público Concursado do Governo Federal e não me engano, apesar de não seer do PT: Serra representa o atraso e o arrocho salarial par aum estadoqeu ainda precisa melhor se organizar!

  3. Noé Antonio says:

    è isso meu irmão, fiquei emocionado com sua história, vamos em frente para o Brasil seguir mudando.
    dia 31 é Dilma 13

  4. Marita says:

    O SENAI dá curso técnico junto com o 2o grau.

  5. Gilberto Manea says:

    Ótimo post Amarillo. Parabéns pela reflexão.

    No Festival de Gramado em 2009, onde participei como convidado do juri de estudantes, foi exibido um glorioso filme de Piño Solanas tratando do desmonte ferroviário ocorrido na Argentina durante a Ascensão do Terceiro Rech ou, queria dizer, desculpe o ato falho, Ascensão do Neo-Liberalismo. Trabalhadores ferroviários desencantados cometeram suicídio ou morriam de ataque cardíaco fulminante.

    De uma conversa com Lúcio: A que se pensar alguma vez, de um modo político, resistente, um projeto de re-construção da antiga Casa do Ipiranga talvez como uma base cultural de educação socioambiental na entrada do Histórico Caminho do Itupava junto à malha férrea e que a ALL negligentemente deixou perecer. Um patrimônio histórico paranaense e brasileiro perdido!

    + segue, a Vida.

    GB Manea.

  6. Valéria Thurler says:

    Apesar de ter passado algum tempo em que você escreveu este relato, hoje li pois a muito tempo procuro uma resposta sobre o tempo em que possuia uma bolsa de estudo da antiga R.F.F.S.A. foi no ano de 1978 a 1980. Já perdi uma bolsa de estudo do ENEM por não encontrarem nenhum dado sobre aquela época. Hoje tenho 48 anos, mas ainda não desisti de estudar, principalmente agora que meus filhos estão criados e bem encaminhados. Assim quero deixar aqui a sensação de ter lido sua história e me identificado com cada opinião sua a respeito do antigo sonho de ser ferroviário e o amor que os pais e a antiga empresa deixou em nossos corações. Os tempos mudaram e poucas pessoas enxergam que após estas privatizações em benefício de não sei quem somente trouxe prejuízo a nação e sepultou esperanças de muitos. Agora estamos conseguindo respirar e sonhar . Obrigada por ter expressado sua opinião e contado sua história, tive um misto de nostalgia, frustração e esperança renovada. Valéria, filha de um ex-funcionário demitido da Rede por não ter entrado em acordo e até hoje, meu pai tem pendências que nunca foram pagas .

  7. Roselia floriano says:

    Tu falaste só a verdade, tenho meu coração partido e meus sonhos despedaçados ,pois sou ex funcionária da rede ferroviaria demitida em 1997 ,filha e neta de ferroviários.

  8. edson castro says:

    e outra a all e uma empresa sim que so viza o lucro como qualquer empreza, mais a rffsa era um cabide de emprego tinha gente para tudo, ou melhor engenheiros, supervisores para tudo ganhando altos salarios e por vzs nem trabalhavam, engenheiros que tinham a varias diarias por mes para se deslocarem daqui para a lapa ou ponta grossa, nao e a toa que nunca dava lucro

  9. edson castro says:

    inclusive trabalhei com teu pai

  10. Luiz Carlos says:

    Meu prezado jovem amarelo, quem lhe escreve é um velho ferroviário que como seu pai se aposentou através do plano de demissão voluntária que me gatingiu todos os direitos trabalhistas e posteriormente a paridade que hoje infelizmente vem sendo covardemente impedido por esse governo perdura que inclusive foi o responsável pela extinção da Rffsa.O grande problema não foi a privatização de uma empresa que já não conseguia se sustentar,o grande problema foi a incompetência ou má fé do governo petista em não dar prosseguimento ao processo de privatização,através da Agência Reguladora que não cumpriu o papel de fiscalização,acompanhamento e monitoramento das concessões como todos Países desenvolvidos com sucesso.Portanto,quando votar pense no seu filho e neto para que eles tenham esperança de verem e usufruírem o progresso com plena democracia e igualdade para todos os Brasileiros e não apenas para uns poucos que trabalham para um partido e que enriquecem as custas do suor dos que realmente trabalham para o País.

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