Chronicles

Confirma, confirma, confirma.

As eleições 2008 mais uma vez marcaram a festa da democracia, mas onde está meu pedaço de bolo? E o meu chapéuzinho? Infelizmente em Curitiba, percebi que nos últimos anos esta festa é feita única e exclusivamente por palhaços e palhaças.

Fiquei ontem o dia inteiro na rua participando das eleições. Além de ser fiscal do meu partido, aproveitei os últimos instantes para fazer boca de urna para o meu candidato. Esse tipo de atividade é ilegal, mas fundamental, pois sempre você encontra um velho amigo seu na fila, um velho professor, pessoas que as vezes nunca mais você viu, mas que confiam em você, ou ao menos confiam mais em você do que no candidato que elas escolheram ou, ainda pior, confiam mais em você do que na propaganda que ela viu na televisão, no rádio ou num santinho pego na frente do colégio em que ele ou ela iriam votar. Olhando por esse ângulo, será que ninguém percebeu que tem alguma coisa errada nesta festa? Tem alguém vomitando pela janela da televisão e ninguém foi ajudar a pobre coitada da democracia que já entra em coma por tanta droga que injetam nela todos os dias.

O que percebi nestas eleições é que ela foi uma das menos politizadas de todos os tempos. Poucas pessoas com força para defender seu candidato, poucas pessoas utilizando adesivos no peito para votar, poucas pessoas com um semblante de que estavam realmente construindo sua própria participação. Pareciam com robôs indo em direção a tecla verde de confirma, confirma, confirma induzidos por uma propaganda massiva, quase como uma programação dos nossos cérebros para repertimos muitas vezes o digitar daquelas teclas e ajudar a legitimar toda essa estrutura que a maioria tem pouca ou nenhuma participação, mas que mesmo assim, a cada dois anos, são convencidos de que sua participação é muito importante.

Curitiba deu um cheque em branco para Beto Richa ao elegê-lo com quase 80% dos votos. Um cheque em branco para ele aproveitar e gastá-lo nos cassinos de Las Vegas, cidade para qual ele está se dirigindo neste momento para “descansar”. Enquanto isso, nós que pautamos uma outra cidade possível, teremos que agüentar o peso nas costas daqueles que querem nos esmagar. Chegou a hora de juntarmos os nossos cacos, pois tudo que não nos mata, nos fortalece. Chegou a hora de construirmos uma verdadeira nova cultura política. Disputar as eleições não é nada fácil, agora, disputar a sociedade é tarefa muito mais difícil de que qualquer coisa. Não é a toa que dedicamos uma vida inteira para convencer parte da sociedade de que ninguém deve ser palhaço de ninguém. Todos nós temos autonomia para decidir sobre o nosso futuro e todos nós temos direitos sobre os espaços públicos e os instrumentos de poder que compõem o Estado Democrático de Direito.

Espero que em 2010 os únicos palhaços que eu veja sejam os fantásticos artistas cênicos que levam amor e esperança para aqueles que precisam.

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